Muitas vezes um fator que passa desapercebido para o contratante é a imagem que este passa nos primeiros contatos com seus futuros funcionários.
Claramente, na maior parte dos casos, o funcionário está feliz por ser contratado e está aceitando o que der e vier pelo seu futuro profissional na nova empresa. Mas a duração dessa impressão e dessa vontade de contribuir pode durar mais ou menos tempo em função de diversos pequenos aspectos. São detalhes físicos do ambiente de trabalho e dos processos que em geral são sutis, muitas vezes subliminares e passam desapercebidos para quem está dentro daquele ambiente a muito tempo.
Entendam que esses pontos vem da experiência de observar isso em várias empresas que eu e colegas trabalhamos. Cada caso é um caso, mas aqui estão alguns observados com maior frequência:
O retorno no processo de seleção e contato com o RH:
Muitas vezes um candidato que acabou de ser aprovado não tem uma resposta pronta do RH para suas questões. Percebam que o candidato pode estar passando por vários processos seletivos, a simples demora em uma resposta, pode fazer o candidato mudar sua decisão entre duas propostas. Como não conhecemos o nível de ansiedade do indivíduo, principalmente para casos em que este acabou de pedir demissão do antigo emprego ou está a muito tempo procurando.
A famosa justificativa de que isso faz parte do processo não procede, muitos dos bons profissionais se decepcionam já antes mesmo de pisar na empresa, o que pode fazer com percam a credibilidade das futuras ações que o RH tente promover internamente. Um argumento conhecido: "Como vou confiar em alguém que me fez passar por aquilo sem nem mesmo me conhecer direito?".
O local onde você fez a entrevista
Como sua empresa se apresenta para o candidato logo na primeira entrevista?
Há empresas que são lindas e maravilhosas como se tivessem saído de um catálogo de uma loja de moveis chiques. Aí vem a pergunta: onde você efetivamente foi entrevistado? Pois é um caso recorrente de empresas que precisam aparentar mais do que são ainda no início, ainda mais se foram pequenas, desconfie.
Salvo alguns casos específicos onde existem setores da empresa que precisam receber clientes importantes, ou funções muito específicas, em geral empresas sérias usam moveis padronizados, de melhor qualidade ou não, mas sempre visando um fator: Custo/Benefício
Ou seja, procuram o mobiliário padronizado que seja relativamente fácil de expandir, manter e remodelar o layout dos setores.
O mesmo vale para o setor de IT. Observe as máquinas que os funcionários estão usando, cada um tem um PC de marca ou modelo diferente, ou está dentro de uma certa padronização? Uma salada de computadores pode refletir um IT com baixo investimento ou descaso. Observe o computador dos chefes em relação aos funcionários. Um chefe que vai em geral usar ferramentas padrão de texto e gerenciamento não precisa de uma máquina descaradamente superior que um funcionário que faz uma função pesada como, por exemplo, desenvolvimento de software ou design gráfico.
As entrevistas em si
O candidato entra em uma sala com vários entrevistadores ou poucos por vez? Não há problema em nenhum dos dois casos, mas vejam que para certos assuntos entrevistas coletivas são terríveis para se conhecer bem os candidatos. Se a necessidade de tempo não permitir que ocorra de uma forma diferente, e a entrevista precisar ser coletiva, evite de colocar o candidato na parede. Faço-o se sentir a vontade, assim ele tende a se soltar e você pode extrair melhor o real potencial dele. Ainda mais quando se trata de cargos onde a atividade atrai pessoas de perfil mais introvertido. Entenda que o fator ansiedade para o candidato é elevado, mesmo que ele esteja empregado e só querendo trocar de emprego. Vi muitos profissionais fantásticos serem recusados apenas porque algum entrevistador com ego exaltado queria impor sua posição de domínio.
Outro problema que considero sério é com candidatos que já são recusados antes mesmo da entrevista começar, seja porque foi uma indicação forçada, seja porque a pessoa não agradou pela postura na sala de espera e etc. Vi situações onde o candidato foi obrigado a esperar horas para ter uma entrevista de 15 minutos apenas para cumprir o protocolo. Tive amigos em entrevistas onde os pontos fracos foram tão exaltados que a pessoa sai quase chorando da sala.
Entendam entrevistadores, que muitas pessoas tem memória e nunca se sabe o futuro da pessoa. O mundo dá muitas voltas. Presenciei pessoas que em uma empresa eram meros peões e anos depois estavam em posições chave de decidir o futuro dos próprios que a anos atrás o fizeram passar por todo um tormento.
O ponto que quero chegar neste tópico é o respeito pelas pessoas. Sempre respeite a inteligência da pessoa, mesmo que pelos seus padrões ela não pareça estar apta a posição.
Melhores lugares para se trabalhar
Cuidados com essas listas de melhores lugares para trabalhar. Observe realmente as entrelinhas quando se candidatar a uma empresa. É comum casos de empresas que criam salas de jogos, de meditação, cafés suntuosos, academias de ginástica e clubes e etc apenas para aparecer no topo da lista. Uma boa parte (não todas, ok?) efetivamente tratam os funcionários como qualquer outra empresa, não dão tempo para tais atividades e na verdade se você quiser fazer uso dessa infra-estrutura, ou empolgado pelo perfil "descolado" e quiser se sentir a vontade e usar um dos patinetes a disposição para circular por algum corredor ou mesmo quiser trazer bonecos de ação para sua baia e etc vai ser mal visto.
Empresas "Inovadoras"
Cuidados também com empresas tidas como super inovadoras no mercado. A estratégia de cada uma é diferente. Muitas pessoas novas acham que vão entrar numa empresa dessas para trabalhar num lugar que parece um laboratório do super cientista louco, vão fazer coisas loucas e ter uma vida excitante. Não! Inovação é um processo árduo, envolve não apenas criatividade. Envolve marketing, estratégia comercial e muito trabalho de evangelização das idéias, propostas de projeto, provas de conceito e principalmente desenvolvimento do produto e serviço. O trabalho não vai ser diferente de qualquer outra empresa. São poucas posições dentro da empresa que permitem um trabalho de definição que pode ser interessante do ponto de vista de inovação como o público em geral vê. Normalmente, essas posições são extremamente disputadas e geram controversas ou estão nas mão do topo da hierarquia, ou seja, não é fácil de alcançar a curto prazo. Há muitos profissionais que vivem a vida tentando, estudando e se especializando e não conseguem pela enorme restrição de posições de trabalho nesse tipo de atividade.
Start-Ups
O meu melhor conselho sobre Star-Ups: Releia tudo que escrevi acima.
Start-Ups são uma loteria, como ocorreu nos idos de 2000 com a bolha da internet e das Pontocoms. Existe uma moda de Start-Ups e anjos investindo em novas e "super promissoras" iniciativas (boas e ruins) esperando por grandes lucros.
Estude realmente bem o que a empresa faz em termos de serviços e produtos. Estude o mercado onde ela está inserida e qual o diferencial dela. Verifique quem e quantos são os sócios da empresa. Se pergunte: Será que não tem gente demais gerindo isso? Observe se estão lá seriamente trabalhando ou se estão "brincando de empresario". Quem trabalha lá? É como uma padaria cheia de parentes e amigos pessoais trabalhando? Entenda que não necessariamente é um modelo ruim. Já vi muitas empresas serem muito bem sucedidas com os parentes dos donos gerindo a mesma. Mas se pergunte e avalie com calma quais são as reais possibilidades de você crescer em uma empresa que está tão no inicio em um modelo de gestão como o que você encontrou. Se seu sentimento for bom em relação a tudo isso, aposte! Caso contrário, fuja! A chance de crescer em um empreendimento desses é sempre muito grande, mas o risco é sempre maior também.
Bom. Eu poderia continuar escrevendo e escrevendo pois há muito o que eu ainda não abordei sobre o tema, mas paro por aqui para a leitura não ficar mais massante do que está.
Sei que muitos vão querer criticar o que escrevi, mas digo novamente, são minhas observações em função de minha experiência. Peço perdão se ofendi alguém, não era minha intenção. Acho que todos as pessoas merecem respeito por igual.